quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Saudade

Há certas coisas que nos reconfortam porque sabemos que ainda estão lá, que existem e que nos fazem antecipar a saudade daquilo que ficará para trás, da sua ausência. Tu és uma delas. Sempre que entro em casa e te vejo, na maioria das vezes, sentado à secretária, embrenhado nos teus livros ou no quer que seja que o ecrã do computador te impõe à frente, sossego. É como uma paz interior por te ver, por saber que ainda existes. Quando chego, olhas-me e sorris. Observo o teu rosto envelhecido, vincado pelas mágoas da vida que constantemente te ameaçam deixar sem suporte tal como uma falésia desgastada pelas vigorosas e temerosas ondas do mar. Marcado pelas drogas que te consumiram o corpo mas que, ao mesmo tempo, o ampararam. Condenado a uma sina sem sorte, que te prende ao passado e que te desfigura o futuro. Vida injusta, esta tua, que premeia todo o teu esforço com obstáculos e desilusões. Mas nada foi em vão. Ensinaste-me lições de grande valor. Incutiste-me valores que poucos são aqueles que se podem gabar de os ter. Moldaste-me, não só com as tuas qualidades mas também com as tuas fraquezas. És parte de mim. Por isso sei que, quando partires, sentirei saudade mas nunca te direi adeus.

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